quinta-feira, 18 de março de 2010

MOMENTOS DO POETA



O disco Só se for a dois, me permitiu usar uma coisa não rock'n roll. Eu tenho esse lado de cantor de churrascaria...""Eu morro sem o Frejat. É a paixão da minha vida. Quero fazer parceria com ele até morrer"."Eu posso chegar num bar e conversar com a Beth Carvalho, a Elza Soares, um cara punk. Não ponho barreira em nada"."Sou tiete de primeira hora do Caetano. Ele foi um cara que deu um aval importantíssimo no começo da minha carreira. Mas agora, com as declarações dele de que o Rio é só plumas e paêtes, foi a primeira vez que me decepcionou. Acho que ele deu uma mancada legal. Daqui a seis meses, ele volta com outra polêmica. Ele devia estar num dia não...""Lobão deve amar muito o Caetano. Deve se pegar com a coisa do Caetano achar a geração dele muito melhor. Mas eu tenho orgulho de fazer parte de uma geração que tem o Renato Russo, o Arnaldo Antunes, o Lobão, uma geração que acabou com essa história de que rock é bobagem"."Sou um romântico ao contrário do Lulu Santos. Ainda não conheci a minha Scarlet"."Continuo compondo porque sou compositor. Por acaso eu canto. Eu gravo só para registrar que fiz isso ou aquilo num certo tempo".? - 20/03/1987 "Sempre tive horror de política, mas tem coisas que você não precisa saber, qualquer burro vê. "Brasil" é uma música crítica mas não tem nada a ver com uma fase "política". Eu simplesmente passei o ano passado (86) do lado de dentro, e quando abri a janela vi um país totalmente ridículo. O Sarney que era o não diretas virou o rei da Democracia. Os fãs de hoje são os linchadores de amanhã (frase de Millôr citada em "Vai à luta"). O Brasil é muito triste trópico".? - 20/03/1987"Dei uma entrevista para uma revista masculina falando de drogas e bissexualismo. Depois, todas as pessoas vinham me entrevistas queria saber mais a respeito. Só que cansei de falar sobre isso. O meu trabalho é mais interessante do que a minha vida sexual".Maio/1987, republicado em Amiga, julho/1990"Tenho a fantasia de ficar para sempre com uma pessoa só, ter filhos, constituir família. Mas minha vida desdiz isso".Maio/1987 / Folha de São Paulo - 08/07/1990"Não tenho nada a esconder. A minha vida é um livro aberto. Entendo, por exemplo, que determinados artistas não podem dar determinadas declarações, porque tem um certo compromisso com outra faixa de público, mas este não é o meu caso... Acho que as pessoas que compram meu disco e vão aos meus shows se identificam comigo porque tem um tipo de vida parecido com o meu. Nunca passou pela minha cabeça ter uma imagem. Nunca procurei isso...""Ter todo o público no escuro e aquela luz em cima de você, é o êxtase do narcisista. E eu sou super narcisista, mas acho que todo mundo que sobre num palco tem esse lado. Por mais que o cara não tenha vaidade, tem um lado narcisista. De forma nenhuma, considero o narcisismo ou o egoísmo um defeito. Acho que são coisas inerentes ao ser humano"." Não há coisa que me deixe mais feliz do que quando as pessoas vão ao meu camarim, depois dos shows, para falar que a história da música é exatamente o que aconteceu com elas. Isso é muito bonito e gratifica a gente... Existe essa busca de calar-se com público. Isso é lindo"."Acredito em Deus... ele está no pôr-do-sol, nas pessoas bonitas, legais, superanimadas... Também não acredito em outra vida. A vida é essa aqui mesmo, e a gente tem que aproveitar enquanto é tempo. Já me preocupei muito com a morte e tive medo até. Hoje, apesar de ser um assunto sobre o qual não gosto muito de falar, encaro com naturalidade, porque acredito também na energia das coisas. Na transformação das coisas em energia. Talvez até volte a este mundo, mas como outra coisa, em outra forma... sei lá"."Acho até que, atualmente, poucos compositores falam da dor. Antigamente, tinha aos montes: Dolores Duran, Lupiscínio Rodrigues, Noel Rosa, Cartola, Maysa e tantos outros. Depois disso, pintou uma fase em que era cafona e antiquado falar do sofrimento. Não estou sendo pretensioso, não, mas vários estudiosos da música popular já me disseram que eu trouxe essa coisa da dor-de-cotovelo de volta. É claro que isso aconteceu com a moldura mais epidérmica do rock. Todo brasileiro, todo latino-americano, é pego um pouquinho pelo pé nisso de mexer na ferida do amor. E sempre gosta de temas relacionados a uma paixão que não deu certo. Esse é o lado diferente e talvez polêmico do meu trabalho".Amiga, 06/maio/1987"Pra compôr, não planejo absolutamente nada. Acho que sou a pessoa mais desorganizada que você pode imaginar. Tudo me acontece de sopetão, porque nunca sei como a coisa vai sair. Agora, quando a inspiração vem, sou caxias mesmo, muito sistemático. Quando sento à mesinha para trabalhar, faço mesmo. Se a idéia não pinta, puxo por ela até acontecer. Só sou disciplinado para trabalhar. Pode ser até as quatro horas da manhã. Mas se começo uma letra, ela tem que sair. Depois fico semanas melhorando as imagens, as rimas"."Eu não me considero poeta, sou apenas um letrista para divertir o povo"."Ao contrário de todo mundo, que fica se ressentindo 'porque ela me deixou, não sabe o que perdeu', eu não tenho medo de dizer: Eu é que fui covarde e babaca"."Eu não conto uma histórinha, é uma coisa de parar e pensar na vida"."Todos os que vivem no lado escuro da vida são pessoas iluminadas e me sinto mais à vontade em lugares com pessoas escrachadas do que com as mais finas".O Globo, Jefferson Guedes, 07/maio/1987"Não tenho vergonha de ser triste. Eu tenho o lado moleque mas também tenho o lado 'sentado à beira do caminho soltando bolha de sabão'. Mas de um tempo para cá, me cansei de temas românticos. Esse disco é muito romântico ( Só se for a Dois), é de uma fase até meio triste, mas acho que foi uma fase válida. O que aconteceu é que nas minhas letras eu tento debochar da dor, porque o rock abre essa possibilidade"."Eu tenho um jeito de cantar blues, mas o meu modo de escrever é samba-canção"."Quando saio na rua, pinta um personagem mais moleque, é verdade, mas acho muito chato você chegar a um lugar e ficar ouvindo as pessoas falarem mal da vida. Pô, vai a um analista então!".Bizz, José Emílio Rondeau, maio/1987"Não sou um poeta aleatório, e, depois como bom filho da Tropicália, não consigo admitir a barreira que as pessoas traçam para distinguir o que é e o que não deixa de ser MPB "."Eu sou letrista de rock por acaso. Se houvesse pintado um grupo de samba, em vez do Barão Vermelho, eu estaria compondo sambas. De qualquer forma, sou muito latino, muito passional, e minha poesia reflete isso. Posso tentar caminhar no estilo Joy Division, mas quando vou ver o resultado, está muito Cartola"."Atualizar Lupiscínio, trazer essa tradição da poesia brasileira através de uma abordagem mais moderna, mas próxima de nossa realidade, nosso "hoje". Não posso, por exemplo, repetir Noel Rosa. Os tempos dele eram mais românticos, as pessoas pediam xícara de açucar emprestada. Hoje, as pessoas nem se olham na cara. Houve a mudança do universo comportamental, e do referencial imediato. Mas o referencial básico fundamental, essencial, para mim, para minha alma, ainda é o mesmo".O Globo, Mauro Dias, 05/agosto/1987"De cara fiquei meio constrangido por dividir o prêmio da Associação Brasileira dos Produtores de Discos, de melhor letrista da MPB com o Chico Buarque. Sou tarado pela obra dele, acho seu trabalho incomparável. Mas depois pensei melhor e achei que não devia menosprezar assim o meu próprio trabalho".

EM 1984"O disco tem toda uma temática de vida, boêmia e fossa, que é uma ligação minha com o Nelson Gonçalves, Lupicínio Rodrigues e Ataulfo Alves. Um dia ainda chamo o Nelson Gonçalves para cantar uma música com o Barão. Se isso chocar algum roqueiro, é sinal que ele precisa se libertar desse trauma".Sobre o disco Maior Abandonado, Folha de São Paulo, Alfredo Ribeiro, 08/09/84"A noite é uma opção de vida. Gosto de acordar tarde e dormir com o dia nascendo. Por isso, a música Pro dia nascer feliz é a história da minha vida".Outubro/84, republicado na revista Amiga jul/1990"Antes de eu nascer, já era Cazuza. Minha mãe tinha vergonha de me chamar, tão pequeno, de Agenor, nome do meu avô. Na escola, eu nunca respondia a chamada. Não sabia que meu nome era Agenor"."Nós, do Barão, não seguimos tendências; não nos importamos muito com o que se toca lá fora. É algo proposital. O som termina sendo cru. Eu, por exemplo, não dobro voz nas gravações. Não usamos bateria eletrônica. E a base muitas vezes é feita como se estivéssemos diante do público..."."Tenho loucura por dor de corno.""Quando morei nos Estados Unidos, percebi que eles também gostavam dessa temática contra mão, que se expressa no blues. Quer dizer, sempre amavam a pessoa errada.""Eu não entendo de rock, mas como componho com quem faz rock, o resultado é esse estilo do Barão Vermelho".Folha de São Paulo, Matinas Suzuki Jr., 17/10/84"Eu não saio do bar, tomo 8 vodcas, milhares de não sei o quê, vou para casa e escrevo o que eu vi. O Tom Jobim uma vez disse que quando a gente canta o quintal da gente está sendo internacional, porque aquele quintalzinho só a gente tem. E o Brasil inteiro adora bar, adora cachaça, o Brasil inteiro é traído ( conjugalmente)"."Não tem nenhum jovem fazendo música brasileira, todo mundo é roqueiro, não tem ninguém que faça samba-canção, precisamos redimir a música brasileira".Jornal do Brasil, 26/10/84"Eu acredito no amor eterno. Ainda vou encontrar alguém para ficar para sempre. Enquanto isso não acontece, sou galinha mesmo. Um hora aqui, outra ali, no vaivém dos seus quadris, como digo na música. Mas quero até ter um filho. Já que sou pai dos filhos dos outros... Adoro crianças..."."Transo. Com homem, com mulher, não tem o menor problema. Namoro muito, sou ciumento, nesse ponto sou muito careta. Mas estou melhorando, porque a vida é um aprendizado. Ciúme pode ser até supercriativo, um ciume que dê mais tesão. Pôxa, você vai lá, não fica comigo, qual é? Transou com outro, sacana... Faz-se uma ceninha rápida e, depois vem um puta tesão pra curtir mais a garota"."Minha primeira vez foi lá pelos 15 anos, numa festa em casa de amigos, em Petrópolis. Na minha fase meio pirada. Eu estava alto, e a menina me pegou meio a força. Ela era sapatão... Fui currado (risos). Depois a gente se namorou, mas não era o que ela queria"."Eu acho ótimoser filho único, porque isso quer dizer apenas 'amor de mais'. Eu acho bom. O que atrapalha é a falta de amor. Não vejo o lance da super proteção. Eu sempre fui muito bem comportado até a adolescência. Tipo, "o neto preferido da vovó", sabe? Depois, pintou o lance da rebeldia, fui expulso do Colégio Santo Inácio, fui fazer zona na rua, transar drogas, fugir para Mauá. Rasgava roupa para andar rasgado. Minha mãe desesperada. Aí quando acabava o dinheiro, tava eu de volta. Mas eles, meu pai e minha mãe, sempre foram incríveis comigo. Meu pai deu sempre a maior força pras loucuras que eu quis fazer. Sempre esteve do meu lado. Dizia: você vai quebrar a cabeça, mas faz o que você quer...""Eu fiz vestibular para comunicação, porque meu pai tinha prometido um carro; sempre fui tarado por carro. Com 14 anos, pegava o do meu pai. Os gruardas pegavam, tinha que dar grana, já era freguês... Bom, então fiz o vestibular, passei e desisti lá pela terceira semana. Aí falei pro meu pai que não tava a fim de estudar e ele falou: "Então vem trabalhar comigo". Fui pra Som Livre. Trabalhei dois anos lá. O Lulu Santos também estava lá, fazendo produção. Eu selecionava repertório. Mandavam milhares de fitas de gente nova e eu ouvia. De cem, tirava uma boa, que mandava para o Guto Graça Melo. Eu fazia também, comunicados internos, e textos de releases, do Jorge Ben, do Moraes Moreira. Uma vez teve o show de um conjunto, nem lembro qual, que eles puseram meu texto na porta do teatro. Fiquei encantado"."Com meu grupinho no Santo Inácio, nos considerávamos altamente intelectualizados. Éramos comunistas convictos, com 11, 12 anos (risos). Desde aqueles tempos, eu era ótimo em redação. Agora mesmo, tenho pronto um livro de poesias. Falta só o editor. Outro dia achei um texto meu, escrito aos 11 anos: uma redação engraçada, inocente, linda. Mas sempre fui péssimo em português. Tenho o dom de escrever, mas sou nulo em ortografia. Sou o Ibrahin Sued do rock. O meu copy é o Ezequiel Neves. Uma vez que quis rimar "não me importem que mil raios me partam" e o Zeca quase morreu quando ouviu a fita...""Desde pequeno fui tiete de todo o pessoal da MPB. Elis Regina sempre tava lá em casa. Eu acordava de noite para tomar água, e lá estavam na sala o Gil, Caetano, a Gal. A música popular inteira me pegando no colo. Os Novos Baianos acamparam lá em casa, dormiam, iam comer, porque na época eram fodidos, não tinham onde ficar, e meu pai estava produzindo o primeiro disco deles. Só fui curtir rock, Janis Joplin, meus ídolos dos Rolling Stones, lá pelos 14 anos, quando dei uma pirada. Mas antes, o máximo que curtia era coisas do tipo "Alone again naturally", água com açucar. Nessa época aos 14 anos, passei umas férias em Londres com um primo mais ajuizado. E foi mais uma abertura. Então passei a ouvir Janes Joplin o dia inteiro. Quando comecei a compor, acabei misturando tudo isso. Do menino passarinho com vontade de voar (Luiz Vieira) a Janes Joplin. Mas com uma diferença. A dor de cotovelo da MPB, mas dando a volta por cima. "Ah, você não gosta de mim? Então, foda-se também, eu estou aqui e sou mais gostoso". O rock da turma nova veio amenizar o lance down, meio negro, de Lupiscínio, do pessoal da antiga, que era a falta de esperança no amor. O importante não é cantar a perda, mas o amor. Afinal, como dizia Dalva de Oliveira, 'o amor é o amor' "."Quando saí da Som Livre, passei uma temporada em São Francisco. Estava com 20 anos. Fiquei lá sete meses, dividia uma quitinete com um chinês. Descobri o blues de Janes Joplin, fiz cursos de fotografia, dança, essas coisas. Quando voltei, fui ser ator com o Perfeito Fortuna, do Asdrúbal; foi na época que a gente armou o Circo Voador, no Arpoador, para fazer a peça 'Pára-quedas do coração'. Eu não dizia uma palavra em cena, só cantava o tempo todo. A primeira coisa que eu cantei foi uma sacanagem com a Noviça Rebelde: na minha música, os filhos do almirante Von Trapp descobriam que a noviça era na verdade um travesti: Eu cantava até 'Edelweiss'. Cantava com microfone sem fio, chiquérrimo. Depois, com a Carla Camurati, a gente fez uma peça infantil. Foi quando o Léo Jaime, que é um cara genial, começou a dar força, dizendo que eu tinha era de cantar. Ele foi minha fada madrinha, e me levou pro Barão Vermelho, um grupo que tinha um som tipo Led Zepllin, um rockão gostoso, e precisava de um cantor. Cheguei bem pianinho, devagar. Era um bando louco, pintava camburão na porta, porque os vizinhos lá no Rio Comprido, onde ensaiavam, reclamavam da barulheira. Aos poucos fui apresentando as minhas músicas, eles foras se amarrando nas letras, e pintou a parceria com Roberto Frejat, a paixão da minha vida, uma gracinha de parceiro"."Desde pequeno, eu sonhava ser cantor, me ouvir cantando no rádio. Sonhava que um dia meu pai ía ter um Mercedes e ele comprou um. Sonhava em transar algumas pessoas e aconteceu. Não conto, ninguém pode provar mesmo. Mas ter uma música cantada por Caetano, era um sonho meu, e aconteceu. O Ney, quando surgiu, foi uma porrada na minha cabeça. A liberdade sexual que ele transmite é mais forte até que Mick Jagger. Então quando ele gravou Pro dia nascer Feliz, foi um barato. Quando o Caetano, no show Uns, no Canecão, cantou Todo Amor Que Houver Nessa vida, deu um esporro porque não tocavam o Barão no rádio, foi outro sonho. Acho que a minha estrela é mesmo muito boa...""Gosto de estar sempre com muita gente. Não vou a boates, porque não gosto de lugar fechado. No bar, você de certa forma está na rua, sai para comprar um cigarro, volta sabe quando, bêbado, feliz da vida por ter encontrado gente. Nesse sentido, sou meio viralata, como já falou de mim o André Midani. Mas curto um Jack Daniels, apesar de ter pouca grana para comprar. Aliás, grana é sempre curta e acaba logo. Este apartamento foi meu pai quem me deu. O carro também. Quando o caixa fica russo, é ele quem me socorre. Dependo dele pro lance de médico, porque não dá pra segurar 50 paus por uma consulta. Mas pago minha comida, meus pequenos luxos. No fundo sou um perdulário. Mas com a segurança de ter um pai rico. Dono de gravadora. Não cheguei a fazer sucesso por amizade ou proteção. O Ney não grava a minha música por amizade. Foi por amor mesmo. A mim e à música. No meu meio, irremediavelmente meu pai seria o meu patrão, porque afinal se ele não fosse da gravadora (Som Livre), até porque ele é presidente da Associação Brasileira de Discos. Se a Liza Minelli tivese parado para pensar nisso, nunca teria sido atriz. Mas não tenho culpa por ser filho de pai rico, e porque as coisas foram mais fáceis para mim. Nunca tive que vender livros na rua, feito o Tavinho Paes. Ou porque não passei fome, como o Léo Jaime"."Sou muito vaidoso e muito desleixado. Gosto de uma mordomia, aqui no apartamento tá tudo em ordem porque a empregada cuida bem de mim, senão seria a maior zorra. Mas não sei cuidar das coisas. Imposto de Renda me dá tique nervoso. Tenho de chamar um amigo pra resolver prá mim. Este ano perdi até a chance da restituição, por não ter guardado nenhum comprovante. Sou meio dessituado, meio perdido. Me vejo um pouco meio Carlitos, com o sapato trocado. O carro morre no meio da rua, porque esqueci de pôr gasolina. Quando fui votar, não sabia direito como fazer... votei no Brizola, porque representa a esperança. Aliás, eu sou da geração do AI-5, que nunca soube de nada, mas a gente sempre quis votar. Eu levo fé que a gente ainda vai ter representatividade. Vou votar num deputado e poder cobrar posições"."Enfrentar o palco para mim é tudo. Aflora um lado sensual meio incontrolável. Às vezes, entro de pau duro, a coisa pinta até antes de subir ao palco... Outras vezes, entro morrendo de medo, mas, cantando solta a tensão. Sem brincadeira, é lance sexual mesmo. Fora do palco, sou tímido, um menininho, me sinto profundamente desajeitado. Mas, no palco, sou um Super-homem, de pôr a capa e sair voando. Sinto o sexo aflorando, olho para as pessoas e sinto que tem uma coisa também, que volta em resposta. Porque estou mostrando uma coisa bonita que eu compus: não sou humilde, gosto mesmo do que faço. É muito o lance do prazer, eu e a platéia transando pra caralho"."Eu fico feliz quando penso que o homem difere dos bichos e das plantas porque pode amar sem reproduzir - embora o Papa não goste disso. O homem transa por prazer. Então pode ser homem com homem, mulher com mulher, com diafragama, com pílula, com o que for... Homossexualismo é assim uma coisa normal. E o hetero, e o bissexualismo. O homem pode amar independente do sexo, porque ele não é bicho, não é planta. Se o cara não quer, não sente atração, tudo bem. Mas não tem esse negócio de regra geral quando se fala de amor. Quando pinta tesão, estou com Tim Maia e Sandra de Sá: "vale tudo", mesmo!""Por enquanto, o que me dá maior prazer além da música é o beijo na boca. Aquele lance do beijo que é o "fósforo aceso na palha seca do amor". O beijo começa tudo; é da boca que vem a relação... a primeira vez que se entra numa pessoa. Pra mim, é essencial. Sou capaz de ficar de pau duro se beijar alguém"."Tem gente que se irrita, porque eu canto que todo mundo vai pegar a sua pasta e ir pro trabalho de terno, enquanto vou dormir depois de uma noite de trepadas incríveis. Mas o dia-a-dia não é poético, todo mundo dando duro e a cada minuto alguém sendo assaltado ou atropelado. Então, vamos transformar esse tédio numa coisa maior. Li uma vez que você vive não sei quantas mil horas e pode resumir tudo de bom em apenas cinco minutos. O resto é apenas o dia-a-dia. Um olhar, uma lágrima que cai, um abraço... Isso é muito pouco na vida. Então, isso vale mais que tudo para mim. Prefiro não acreditar no day after, no fim do mundo, no apocalipse. Um dia, ainda vou andar na nave espacial Columbus. Bêbado, lógico, mas vou andar! "Playboy, Mônica Figueiredo, dezembro/84"Sexo sem amor dói, mas ao mesmo tempo é ótimo. Isso me angustia, mas é a melhor forma de viver. Trepo com todo mundo, sem a nostalgia de um romance. Aquela coisa cristã de ter alguém. No fundo é uma escolha essa falta de compromisso. Afinal, não é todo dia que você encontra sua Yoko Ono. E enquanto ela não pinta vou levando na sacanagem".

EM 1989"Em 1988 mudei minha maneira de encarar o trabalho. Antigamente, trabalho para mim era diversão. Eu queria me mostrar. Cantava para arranjar broto e para provar para o meu pai que eu era bom. Eu queria era comer todo mundo. E consegui"."Agora vejo o trabalho de outra maneira. Comecei a me preocupar em cantar melhor. Como letrista, passei a falar de coisas mais abrangentes. Parei de falar um pouco do meu quintal e passei a falar da minha geração. Acho que é a idade também"."Sou muito protegido. Isso até me prejudica. Sou meio despreparado. Sou o neto preferido de duas avós e filho único, mimado de pai e mãe. Mas meus valores são todos de classe média baixa. Eu era filho de um produtor de discos e de uma costureira. Estudava no Santo Inácio que só tinha gente rica. Eu tinha vergonha porque minha mãe costurava para as mães de meus colegas. Na época eu chorava, hoje tenho o maior orgulho dela. Papai só começou a ficar rico quando eu tinha 15 anos"."Nunca estive tão ruim em minha vida. Um dia o suicídio passou pela minha cabeça. Rapidamente. Queria tomar alguma coisa para desmaiar. Não sentia prazer em estar vivo. Nunca entendi o suicida. Achava uma covardia. Aí eu entendi"."Fui criado por padres errados… Fiquei com trauma. Se vejo um padre saio correndo. Mas os valores do cristianismo eu acho legal. Sou contra a idéia do pecado. Cristo propôs a dúvida. Isso é maravilhoso. Ele duvidou até o fim. Acho isso fantástico porque a dúvida é criativa"."Não gosto que me perguntem se estou com aids. Me faz lembrar uma coisa que eu quero esquecer. Contei para muito pouca gente o que eu passei no hospital. Mas todo mundo sabe o que eu tenho"."Perdi dez quilos, perdi meus músculos e não os recuperei. Tinha um pouquinho de barriga. Tinha um Bundão. Meus amigos me chamavam de 'Maria Gorda'.""Para mim, o amor é o contrário da morte. Por isso não tenho medo de morrer. Eu estou amando. Estou amando um homem. Isso para mim é coragem. E é contra a caretice".Praia de Pajuçara, Maceió, janeiro/1989"Tenho fé em mim mesmo, a minha experiência com Deus é por aí, sou muito pragmático, cético. Sou otimista. Se não fosse, num certo momento eu teria dançado. Mas, em relação à minha vida, o que está acontecendo é uma busca muito grande de felicidade que eu estou encontrando"."Meus heróis morreram de overdose".Revista Goodyear, Fernando Gabeira, janeiro/1989"Eu era muito feliz pelo lado de fora, mas comigo mesmo não. Achava que não merecia ser feliz".1989, republicado em O Globo, 08/julho/1990"Estou ótimo, segundo todos os exames. Mas posso morrer amanhã".Fevereiro/1989,vários jornais, republicado em Folha de São Paulo, 08/julho/1990"O meu amor agora está perigoso. Mas não faz mal, eu morro mas eu morro amando"."Quero festa, banda e corpo de bombeiros no aeroporto, quando eu voltar para o Rio. Estou com a saúde ótima. Na verdade é como se eu acabasse de descobrir que sou portador do vírus, como se ele não tivesse começado a agir"."Há algum tempo eu deixei de esconder a aids. Acho que graças à Marília Gabriela, que me deu um toque. Depois que ela me falou que não fazia sentido o fato de eu negar o vírus com minha posição liberal como artista. Aí eu pensei, vi que ela tinha razão e achei melhor parar de esconder"."Às vezes acho que foi mais culpa das drogas e de bebidas (alcóolicas), do que dos remédios. Só sei que comecei a ter alucinações, via coisas que não aconteciam na realidade, uma depressão brava. Então meu médico no Brasil me recomendou que eu fosse mais uma vez à Boston para fazer um novo check-up. Foi bom que eu descobri que estou ótimo. Aqui nos E.U. cheguei a engordar quase dois quilos"."Posso levar uma vida normal. Estou fumando como sempre. Posso até beber vinho e cerveja. Só não posso mais é com uísque e nem com cocaína. Prometi para mim que não iria voltar para esses velhos vícios. Agora eu estou lutando para ficar vivo".Folha de São Paulo, José Carlos Camargo, 13/fevereiro/1989"Meus deuses são muitos e eu acredito em todos eles"."Frei José me disse que sou uma pessoa cheia de luz e energia, por isso sou tão inquieto. E mais: que tenho uma missão a cumprir aqui na Terra, e que estou fazendo isso muito bem, por isso não vou morrer tão cedo. Ainda vou viver muitos anos"."Ficam dizendo que Roberto Carlos é careta, mas eu não acho. Ele tem que ter muita responsabilidade com o que diz e eu estou também sentindo isso neste momento. Atualmente estou me tornando um ativista político. Tudo o que eu vejo de errado escrevo cartas para jornais, denunciando mesmo. E acho que todo mundo deveria ser assim"."Eu andei um tempo afastado do Roberto (Carlos), mas agora voltei a achar o trabalho dele demais. Eu estou sempre cantarolando 'se diverte e já não pensa mais em mim'. A nova música dele. O Roberto Carlos é uma pessoa importantíssima para mim, porque faz parte da minha infância. Eu cresci amando a Jovem Guarda. Tinha tudo com a marca Calhambeque, roupa, merendeira e sapato. E um dos momentos mais emocionantes da minha vida foi quando aos 10 anos meu pai me levou no estúdio da Som Livre, onde o Roberto Carlos estava gravando".Manchete, Ana Gaio, 04/fevereiro/1989"Nem penso que tenha sido explorado. Pode ser que tenha havido essa intenção, a gente nunca sabe. Mas eu não considerei nenhum desses últimos lançamentos de trabalhos como os últimos. Eu não penso em morte. Acredito em outras vidas e coisas assim. Nem fiz testamento. A única coisa que combinei com o meu advogado é que quero ser cremado quando morrer, e que minhas cinzas sejam espalhadas no Arpoador"."Claro, faço muitos planos. Esse é o segredo para ficar vivo. Toda a minha família é muito forte. Eu tenho certeza de que vou viver pelo menos até uns setenta anos".Folha de São Paulo, 13/fevereiro/1989"Eu nem queria dar entrevista, mas é melhor dar logo. Estou aqui porque não posso beber. Desde a época em que estive em Maceió (fev/1989), é bebida de manhã à noite. Acordo com um copo de uísque, durmo com outro. Depois que fui para Boston, onde de três em três meses eu faço um check-up, tentei análise, mas não adiantou. Assim, com tudo isto, tive uma desidratação e uma fraqueza geral de tanto beber e não comer. Nada tenho a esconder. Minha vida é um livro aberto"."Já estou começando a me sentir ótimo, e recuperando. Meus amigos têm vindo aqui e telefonado muito. A enfermeira trouxe o bilhete das crianças e eu adorei. Adoro crianças. Deveriam ter deixado elas virem aqui. Eu as recebo, abraço, beijo"."Essa música minha com o Lobão eu adoro; Azul e Amarelo são cores do meu santo, ogum edé, que é um santo criança, o mesmo santo do Gilberto Gil. Com azul e amarelo estou protegido. E temos a parceria do Cartola nesta música, - ele diz rindo - porque usamos uma frase sua: 'Não quero, não vou, não quero'.""A fita azul que estou usando no tornozelo, é a cor do meu santo também. Coloquei quando fui a Salvador. Meus três pedidos são: saúde, amor e paz. Sei que só são atendidos depois que ela arrebenta. Ela está aí. Nunca arrebenta".O Globo, Deborah Dumar, Diana Aragão e Izabel Cristina Mauad, 17/03/1989"No geral eu gosto de dar entrevistas. Gosto de falar, sou falastrão. O que eu tenho tentado melhorar é que eu falo demais e às vezes esvazio o que estou pensando. É uma coisa que eu herdei da minha mãe. Sou muito, ansioso, desde pequeno, quando eu era uma criança elétrica, não parava no lugar, morava num apartamento muito pequeno, não tinha para onde ir...""Eu acho que a entrevista é uma maneira de você chegar ao grande público, porque eu sempre adorei ler entrevistas dos artistas que eu gosto, inclusive várias delas mudaram completamente minha cabeça"."Aquele show no Palace foi uma coisa muito louca, porque eu acho que ele foi histórico para São Paulo... Teve as eleições de 15 de novembro e no primeiro de dezembro eu estava lá. E tinha aquele clima de euforia, as pessoas querendo acreditar novamente que tudo vai mudar, que pode mudar... Tanto que eu considero 'Ideologia' , 'Brasil', e 'O tempo não pára' uma trilogia de Sarney ao PT no poder. É uma trilogia de esperança... Eu nunca tive medo de falar quando eu estava de baixo astral. Acho que a gente não pode ficar 'tudo bem' o tempo todo: o mundo é ruim, as pessoas são ruins, o mal sempre vence, então tem esse lado forte. Mas agora estou numas da corrente do bem. Tô nessa e acho genial. Tudo bem: o mal tá lá, as pessoas ruins estão lá, pessoas mesquinhas, mas não vão me atrapalhar mais. Não vou mais sofrer por causa delas"."Eu não acho que vai haver apocalipse porra nenhuma. Não acredito em nada disso. Eu ainda vou fazer uma excursão da Challenger para Disneylândia, dar uma volta pela Inglaterra, entendeu! Nem preciso chegar na lua - A lua eu deixo para os meus netos. Eu sou muito otimista. Acho que o mundo mudou para melhor. Hoje em dia as mulheres têm a liberdade delas, existe uma outra interpretação da mulher, outra interpretação dos negros - nos Estados Unidos, pelo menos, teve, e isso é um exemplo para o resto do mundo... O mundo está caminhando para uma coisa melhor. As minorias, os gays... hoje já se fala de homossexualismo de uma maneira totalmente aberta. Conseguimos uma vida melhor. Hoje a nova geração já trepa com 15 anos. Na nossa época isso era a maior repressão. Nós trouxemos isso, essa liberdade, para eles. Está tudo mais fácil. Tá certo que pagamos um preço caro por isso. Mas está aí. Se tem poluição, por outro lado temos ecologistas. Eu acredito que vai haver um movimento tão grande, um encontro imediato, vamos encontrar outros seres, numa grande confraternização"."Eu perdi um pouco dessa coisa de humildade. Aprendi uma coisa que a análise me ajudou - a aceitar a minha grandeza, a aceitar o fato de ser bom. Porque te dá um medo filho da puta: ser feliz, medo de amar, medo de ser bom. Tudo que faz bem pra gente, a gente tem medo. E eu tô tranquilo, porque ocupei meu lugar e ninguém tasca mais. Foi o que sempre quis, era meu sonho"."Acho que entrei para o primeiro time, não tô mais na reserva. Tô no time principal, que é o sonho de todo jogador - chegar à primeira divisão"."É que eu descobri que é uma caretice você achar que poesia e letra são coisas separadas. Você pode ser um poeta musical - são gêneros de poesia: tem a poesia musical, tem a poesia que vive sem a música. Acho que minhas letras sobrevivem às músicas. Algumas, pelo menos"."Tem muita coisa que eu não gravei, muita coisa inédita. Mas no dia em que eu morrer algumas pessoas vão na minha gaveta e pegam. Mas eu acho que vou deixar até um testamento para rasgarem, queimarem tudo, porque eu acho uma sacanagem quando um cara morre e deixa uma obra - não tô falando que eu tenho uma obra, porque eu ainda não tenho. Daqui a dez anos eu vou ter uma obra...""Minha mãe me batia mesmo e não era de mão não. O primeiro objeto que ela via pela frente atirava em mim. Depois ia chorando no quarto pedir desculpas...""Politicamente sou mais J. Lennon que Chico Buarque".Bizz, Sônia Maia, março/1989"A razão principal da minha saída do Barão é que ocupava muito espaço dentro da banda"."Os músicos são todos iguais. Tudo doido, uma raça à parte"."Talvez eu seja mais burguês do que as minhas músicas"."O governado militar modernizou o país, puseram o Brasil no século 20, embora à custa do sacrifício do povo. O Tancredo está com o país - aparelhado nas mãos e agora pode pensar mais no povo brasileiro"."Sou socialista e acho que o único caminho para um país do terceiro mundo chegar ao primeiro mundo é através do socialismo"."Eu nunca estudei canto. Minha voz é pequena, mastigo muito as palavras. A opção pelo blues vem disto. Tenho certeza de que se houvesse nascido em outra época, quando havia cantores, eu seria apenas um compositor. Faria as músicas e mandaria para os cantores gravarem"."Adoro correr riscos"."Gosto muito de berrar, tenho a voz rouca e o rock não é mais que um blues rápido"."Sou um latino apaixonado, nada racional, as idéias pintam e me aprisionam. Depois que vou trabalhá-las eu sofro, choro, viro noite"."O que mais gosto é de tomar banho de sol, de mar, de acordar tarde e da noite, que curto intensamente"."O que mais odeio é gente complicada e preconceituosa, hipocrisia e ser acordado. Nenhuma outra coisa consegue ser pior do que isso"."Ainda não sou ingênuo, mas chego lá porque nunca quis pouco"."Não estou correndo atrás da morte, mas da vida"."Não aconselharia nem um cachorro a me seguir na rua"."Eu paguei a conta do analista para nunca mais ter que saber quem sou eu"."Não posso deixar de me considerar um privilegiado, porque adoro o que faço. São poucos os que podem ganhar dinheiro com o que gostam de fazer. Eu, há 8 anos, sobrevivo da minha paixão, a música"."Sempre fui muito aberto, mas não estou nem aí, não devo nada a ninguém: como o que quero, e amo como quero"."Acho que a gente tem que saber usar as coisas e não deixar que as coisas usem a gente. As drogas, principalmente as lisérgicas, me ajudaram muito na minha adolescência. Me ajudaram a entender o mundo de uma outra maneira, me ajudaram a ser uma pessoa mais segura de mim mesmo. Minha experiência com as drogas foi fantástica, só me fez bem. Mas foi uma coisa de adolescência, depois eu me tornei mais biriteiro"."Cartola não existiu. Foi um sonho que a gente teve"."Gosto de coisas densas, como a literatura de Clarice Lispector. Por falar nela, acabei de compor "Que o Deus venha (03/86)", uma música inspirada em meu livro de cabeceira, 'Água Viva'"."Antes eu era um cara de vida desregrada, nunca tinha ido ao médico e nunca tinha sentido nada. Então eu vi um sinal me avisando que eu tinha que me cuidar, que eu tenho um corpo e preciso dar atenção a ele... Dessa vez Jesus me chamou, mas não fui, disse que era cedo e ele podia esperar".Amiga, Eli Halfoun, 03/abril/1989"A Warner queria que eu fosse um ídolo gay, e eu não quis"."Ser marginal foi uma decisão poética"Veja, abril/1989"Tive vontade de vomitar quando vi aquela capa da Veja. Acabei tendo um problema cardíaco e por isso passei o dia numa cadeira de rodas. Mas minha cabeça está a mil".Folha de São Paulo, 26/abril/1989"Estou legal. Tive um problema cardíaco, a pressão baixou e eu estou na cadeira de rodas. Mas a cadeira de rodas anda a 120 mil. Não quero falar sobre Veja. Deixo isso pros meus amigos. Tenho texto do Caetano, do Chico Buarque, assinaturas da Gal Costa, Bethânia, Antonio Cícero, sei lá quantos, que estão brigando por mim e vai ser publicado nos jornais esta semana"."Quero mais é esquecer o assunto. Com essa matéria eles mexeram em casa de abelha. Não sabem o poder dos amigos - não poder de armas, mas do amor que sentem por mim. Eles vão tratar do assunto"."Foi uma coisa de mau-caráter, de má fé, mas eu acredito na justiça. Agonizando eu estava no ano passado, com 40 fios enfiados no corpo, sem funções, pulmão artificial. Agora, só a cadeira. Continuo trabalhando a mil por hora, tudo numa boa".O Estado de São Paulo, 26/abril/1989"É a minha criatividade que me mantém vivo. Meu médico diz que sou um milagre porque eu tenho tanta energia, tanta vontade de criar, e que é isso que me deixa vivo. Minha cabeça está muito boa, ela comanda tudo"."Meu avô morreu dois anos antes de eu nascer. Mas para mim ele é muito importante, uma figura presente" (a música "Nabucodonosor" é em homenagem à ele)"Se em 1985, no começo, eu tivesse ido logo a um médico, hoje estaria muito melhor. Sempre fui muito destrutivo, eu achei que tinha Aids, eu quis ter aids"."Eu queria sair do hospital, queria acabar logo com tudo aquilo, mas minha mãe me mandava ficar quieto, e eu ficava"."Disse à meu pais que eu estava com aids mesmo, que a gente tinha de curtir porque eu não sabia quanto tempo mais iríamos ficar juntos"."Me sinto livre, sem medo de morrer. Da última vez em que fui para a clínica, vi a cara da morte, entrei nela e saí, não sei como. É claro que eu não quero morrer, mas também não quero sofrer. Já pensei em suicídio, mas agora isso nem me passa pela cabeça. Falei com meu médico: se alguma coisa acontecer comigo, eu não quero ver. Que ele me dê morfina, muita morfina, porque eu quero ir embora dormindo. Estou pronto para assinar um papel nesse sentido. Mas não vai ser preciso. Tenho certeza de que vou viver muito tempo ainda. Minha cabeça comanda tudo. Já perdi a oportunidade de morrer, passou a minha vez"."Quando li pela primeira vez um artigo falando da doença, pensei que era aquilo que eu tinha. Comecei a ter febre nos fins de tarde, mas não contava para ninguém. Tomava duas aspirinas e ia para o bar, beber. Se nesse começo tivesse ido a um médico, hoje estaria muito melhor do que estou. Agora faço tratamento psiquiátrico para sair do alcoolismo. Tomo remédio para não ter vontade de beber, e não bebo. À noite, tomo um calmante e durmo seis horas. É pouco. Já vivi uma época em que dormia doze horas seguidas. Muitas vezes acordo sem ar e preciso de ajuda. Sexo ainda é importante para mim. Não sou um aidético casto"."Quando eu tinha 3 anos, meu pai me deu uma bola. Eu a peguei no colo e a ninei como a uma boneca. Essa foi a primeira decepção que o meu pai teve comigo.Meu pai e minha mãe são as pessoas que eu mais amo no mundo, mas nem sempre eles entendem o que passa pela minha cabeça. Eu tenho minhas idéias, meu mundo, daí acontece que, às vezes, a gente não conversa, mas discute. Mas a paixão que eu tenho por eles é a maior do mundo, e sem eles eu hoje não estaria aqui. Meu pai nasceu pobre, trabalhou e foi subindo na vida até chegar a uma cobertura em Ipanema. Ele é uma pessoa muito positiva. Quando eu cheguei em casa e disse que ia morrer, ele respondeu: 'Vamos ficar juntos, lado a lado, e vencer isso'"."Quando eu estava no hospital de Boston, pensei muito e acabei descobrindo que ficar calado me deixava ainda mais traumatizado. É uma situação ambígua, de esconde-esconde. Mostrar aos outros que com aids pode-se continuar vivendo, trabalhando, produzindo me pareceu o caminho mais certo. Agora me sinto mais aliviado"."Existe uma curiosidade um pouco fora do normal por parte do público com relação a minha doença. Especialmente das pessoas das primeiras filas de meus shows, que me olham com ar de espanto, de preocupação. Mas depois todo mundo aplaude, e eu vibro. Eu sei lidar com o público. Tenho domínio do palco, fico com as pessoas na minha mão. Eu sempre olho para as pessoas da primeira fila. O resto, não quero nem saber. Só não agüento aqueles que vêm no camarim, ou que me esperam na saída, para me abraçar e sussurrar em meu ouvido: 'Coragem, Cazuza, coragem', com ar de funeral. Xingo essas pessoas na mesma hora"."Ser marginal foi uma decisão poética, mas foi o único caminho que tive. Descobri que era um artista aos 16 anos. Antes, aos 11, os Novos Baianos foram passar três dias na minha casa, e eu pensei que queria ser como eles. Baby Consuelo andava com um espelho retrovisor na cabeça, e eu achava o máximo. Recentemente, a Som Livre acabou com os artistas contratados, e eu também tive que sair. Mas teria saído do mesmo jeito porque eu era visto como o filho do dono, e não como artista, e todo mundo me adulava. Então saí e entrei em leilão. As ofertas eram boas, mas nem todas me convinham. A Warner queria que eu fosse um ídolo gay, e eu não quis. Com o que vendo, sou um biscoitinho bom para as gravadoras".

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